quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Vamos?

Vamos tirar tempo de onde não temos, vamos deixar algumas coisas pra fazer mais tarde, vamos nos deixar por fazer. Vamos não ir. Vamos ficar.
Vamos dedicar o tempo que não temos para fazer coisas que não fazemos. Vamos agradar ao outro, agradando a nós mesmos. Vamos nos doar. Vamos doar tempo do nosso tempo.
Vamos chamar. Buscar. Aceitar. Vamos ir, mesmo que não indo. Não saindo do lugar.
Vamos cozinhar juntos, vamos comer, vamos avaliar. Vamos errar. Vamos acertar.
Vamos porque não iríamos, mas indo ou ficando, vamos ter companhia.
Apenas vamos engolir o orgulho e matar a saudade de alguém que não vemos por nossa tão longa falta de tempo. Ou de vergonha na cara.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Doce café amargo

Talvez eu vire uma senhora mau humorada com problemas de gastríte e dentes amarelados. Mais amarelados do que já são.
Quem sabe eu pare de escrever, de compor e de cantar e não tolere mais um ruído de ninguém. Ou ainda, eu me transforme naquelas velhinhas ranzinzas e surdas que colocam a culpa em você por falar baixo.
E pode ser que isso tudo comece numa consulta médica, onde o doutor me aconselhe cortar o café ou substituir o café preto por café com leite. Do que me adianta café com leite? Eu quero o gosto amargo alguns segundos após um gole!
Porém, tudo o que falei são só possibilidades. E eu sei o quanto sou teimosa. Também sei que sempre vai haver um bule num cantinho especial, ao lado de uma xícara especial e que sempre vai haver aquele aroma no ar.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Sintomas femininos

No meio do  meu filme favorito, começo a ficar um tanto lesada. Não entendo, então começo a investigar motivos do porque estou mal. O que comi no almoço? Nada parece culpado. Não sinto sintomas de gripe nem febre.
Já não consigo prestar atenção no filme. É uma dor no corpo, mas não consigo localizar. Começo a ficar com medo de um possível desmaio. Mãos suando. Frio.
Começa a dor de cabeça. Realmente, acho que estou morrendo e não sei que remédio tomar nem o que meu corpo está tentando me dizer.
O choro é quase automático e a dor aumenta. Tudo começa a fazer sentido agora. Consigo identificar onde está a dor e chego a conclusão: tenho um dinossauro no útero e ele adora dançar frevo.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Ordinário tempo livre

E então, ele aparece. Num momento qualquer, não planejado. Você esperou tanto por ele e finalmente ele chegou, mas você parece não aproveita-lo.
Olha para os lados. Vê a hora no celular e espera uma mensagem que não chega. Sente o ar gelado vindo do ar condicionado e imagina o quanto faz calor lá fora. Procura por árvores através da janela, mas só encontra edifícios de concreto. Sente as mão suando ao toque da caneta, solta-a.
Levanta, anda até a porta e se desencoraja pelo calor. Volta e senta na cadeira ainda quente.
Tanto tempo esperando um tempo livre e, agora que ele chega, não tem idéia do que fazer. Não tem assunto, não tem belas paisagens, não tem ar puro. Não tem independência. Realmente, os seres humanos viraram pássaros engaiolados.