domingo, 18 de dezembro de 2016

Máquinas

Abrir os olhos e ligar o modo automático. Escovar os dentes, tomar um banho rápido. Passar o café escutando uma música para acordar. Arrumar a cama e  checar a bolsa. Dar uma última olhada no espelho para conferir se a roupa está amarrotada.
É tudo tão frio. Faça isso, arrume aquilo. Trabalhe, sorria. Desse jeito, agora. Depois você resolve, agora foca aqui. Uma série de instruções para si mesmo. Cadê a insegurança? É tudo sempre igual.
Eu sempre fui de gostar de desordem, de não ter nada para fazer e inventar moda. Assim como qualquer um, eu odeio o tédio. Eu quero sentar no chão, andar descalço, quero sair de pijama, fazer minha própria comida.
Quero me tornar humana novamente e me perder quando receber um olhar inesperado. Quero ficar quente e corada por causa de um sorriso seu. Quero ficar sem resposta quando conversarem comigo. Eu quero rir. Rir alto. Rir muito. Fazer você rir de mim. Quero me arrepiar com um abraço.  Quero te beijar quando estiver contando uma história e quando você estiver no telefone, quero te distrair e te fazer perder a fala. Quero voltar a me perder olhando seu sorriso.
São coisas tão simples, mas que fazem tão  bem. Qualquer demonstração de carinho é válida. Qualquer atenção a mais. Desejo viver em paz, mas então lembro que hoje não é dia. Não posso ser humanamente eu. Não hoje.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Discrição

Talvez a verdade seja que já nem me importo com o que pensam. Não me escondo mais. Porém, algo me diz que não devo ser assim. Eu escuto. Mantenho minha cabeça no lugar. Continuo criticando, amando e desejando. Em meio às minhas frases. Dentre as linhas das poesias. No mundo da minha cabeça. Poupo as pessoas da minha loucura. Vivo como neutra no mundo real. Sou eu mesma sem você perceber nada.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

O motivo da minha insônia

Olhar para claridade da janela no meu quarto, em plena escuridão da noite. No momento, estou num intervalo de tédio entre as minhas dores.
Há vezes que me acho muito triste, em vão. Mas há vezes que me consolo no meu pessimismo, por saber que é uma forma de diminuir as decepções futuras.
Nada é perfeito todo o tempo. Ninguém é bom o suficiente. Nem mesmo eu, nem mesmo você. Sorte nossa é termos uma fuga nos momentos difíceis. É mergulhar em palavras e linhas. E esconder sentimentos em pontos.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Pessimismo

Ninguém p ouvir o que tens para dizer
Ou muitos para ignorar o que dizes
Ninguém para ouvir teus gritos
Ou um universo para ser calado por eles
O lado ruim de ver o lado bom, é que no fim os dois são a mesma coisa
Contados de jeitos diferentes

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Inservidão

Se os olhos fossem tão valorizados quanto as curvas,
Se ouvir fosse tão valorizado quanto falar,
Se no fundo de cada ser houvesse um espaço para pensar no outro,
As pessoas não sentiriam seus pés suspensos num lugar qualquer.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Sintomas de um dia perdido

Pacientemente sentada, esperando um computador da escola ficar livre para poder escrever.
Dores  quase imperceptíveis na ponta da orelha, mas percebo-as.
Um pouco de sono ainda, são nove horas da manhã.
Alguém sai da sala e deixa a porta bater. Recebo uma mensagem. Não movo um músculo.
O sono e o tédio brincam de pular corda dentro da minha cabeça, logo atrás dos meus olhos. Computadores ainda ocupados.
Sinto um pouco de saliva acumular ao lado da língua. Sinto um gosto de café amargo.
A cantina está aberta  no andar de baixo. Quero um pão de queijo e uma xícara de energia, por favor.
Meu dinheiro só compra um pirulito. 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Vamos?

Vamos tirar tempo de onde não temos, vamos deixar algumas coisas pra fazer mais tarde, vamos nos deixar por fazer. Vamos não ir. Vamos ficar.
Vamos dedicar o tempo que não temos para fazer coisas que não fazemos. Vamos agradar ao outro, agradando a nós mesmos. Vamos nos doar. Vamos doar tempo do nosso tempo.
Vamos chamar. Buscar. Aceitar. Vamos ir, mesmo que não indo. Não saindo do lugar.
Vamos cozinhar juntos, vamos comer, vamos avaliar. Vamos errar. Vamos acertar.
Vamos porque não iríamos, mas indo ou ficando, vamos ter companhia.
Apenas vamos engolir o orgulho e matar a saudade de alguém que não vemos por nossa tão longa falta de tempo. Ou de vergonha na cara.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Doce café amargo

Talvez eu vire uma senhora mau humorada com problemas de gastríte e dentes amarelados. Mais amarelados do que já são.
Quem sabe eu pare de escrever, de compor e de cantar e não tolere mais um ruído de ninguém. Ou ainda, eu me transforme naquelas velhinhas ranzinzas e surdas que colocam a culpa em você por falar baixo.
E pode ser que isso tudo comece numa consulta médica, onde o doutor me aconselhe cortar o café ou substituir o café preto por café com leite. Do que me adianta café com leite? Eu quero o gosto amargo alguns segundos após um gole!
Porém, tudo o que falei são só possibilidades. E eu sei o quanto sou teimosa. Também sei que sempre vai haver um bule num cantinho especial, ao lado de uma xícara especial e que sempre vai haver aquele aroma no ar.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Sintomas femininos

No meio do  meu filme favorito, começo a ficar um tanto lesada. Não entendo, então começo a investigar motivos do porque estou mal. O que comi no almoço? Nada parece culpado. Não sinto sintomas de gripe nem febre.
Já não consigo prestar atenção no filme. É uma dor no corpo, mas não consigo localizar. Começo a ficar com medo de um possível desmaio. Mãos suando. Frio.
Começa a dor de cabeça. Realmente, acho que estou morrendo e não sei que remédio tomar nem o que meu corpo está tentando me dizer.
O choro é quase automático e a dor aumenta. Tudo começa a fazer sentido agora. Consigo identificar onde está a dor e chego a conclusão: tenho um dinossauro no útero e ele adora dançar frevo.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Ordinário tempo livre

E então, ele aparece. Num momento qualquer, não planejado. Você esperou tanto por ele e finalmente ele chegou, mas você parece não aproveita-lo.
Olha para os lados. Vê a hora no celular e espera uma mensagem que não chega. Sente o ar gelado vindo do ar condicionado e imagina o quanto faz calor lá fora. Procura por árvores através da janela, mas só encontra edifícios de concreto. Sente as mão suando ao toque da caneta, solta-a.
Levanta, anda até a porta e se desencoraja pelo calor. Volta e senta na cadeira ainda quente.
Tanto tempo esperando um tempo livre e, agora que ele chega, não tem idéia do que fazer. Não tem assunto, não tem belas paisagens, não tem ar puro. Não tem independência. Realmente, os seres humanos viraram pássaros engaiolados.